segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Chuva traz esperança para o semiárido da Bahia


Barragem de Ponto Novo. Situação permanece crítica, mesmo com as chuvas. (Foto: Carlos Augusto (Guto Jads) - Jornal Grande Bahia)

A forte chuva que caiu nos últimos três dias em todo Estado, principalmente nas cabeceiras dos rios Jacuípe e Itapicuru, na região semiárida, e a previsão de que continue chovendo durante este mês, alimenta a esperança dos agropecuaristas, superando as expectativas de perdas mais acentuadas que as verificadas na safra 2011/2012. Na região de Piritiba, na cabeceira do rio Jacuípe, o índice acumulado de chuva medido neste domingo (20/01/2013) chegou a 165 mm, fazendo com que o nível da barragem do França subisse 3 cm. O nível da barragem de São José do Jacuípe, no município com o mesmo nome, aumentou 2 cm, e na barragem de Pedras Altas, na região de Capim Grosso, a elevação foi de 2 cm. A barragem de Pindobaçu, a primeira do Rio Itapicuru e que dá suporte à barragem de Ponto Novo, subiu 1,20 m, segundo medição feita na tarde deste domingo.
“Isso pode parecer pouco, mas é muito importante e um sinal muito positivo”, explica Marcelo Nunes, superintendente de Irrigação (Sir) da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Reforma Agrária, Aqüicultura e Pesca (Seagri). A barragem do França abastece municípios como Piritiba e Miguel Calmon, que estavam com racionamento de água, e atende a milhares de agricultores familiares que cultivam hortifrutigranjeiros, em especial o tomate irrigado, cuja atividade estava paralisada.
De acordo com o secretário da Agricultura, engenheiro agrônomo Eduardo Salles, a chegada da chuva é um grande alento, mas não reduz a preocupação com a seca, pois a situação é dramática. “Nossos rebanhos estão seriamente comprometidos, morrendo de fome, e nós precisamos com urgência de milho para alimentação animal. Hoje são necessárias pelo menos 30 mil toneladas e estamos reivindicando ao governo federal que autorize a remoção dos estoques da Conab do centro-oeste para o nordeste via cabotagem, a partir do Porto de Paranaguá.
A precipitação nas cabeceiras dos rios Jacuípe e Itapicuru deve fazer com que a água chegue também à barragem de Ponto Novo, levando esperanças aos agricultores do Projeto de Irrigação de Ponto Novo, onde existem 1,2 mil hectares de banana, atividade que gera cerca de cinco mil empregos diretos. O nível da barragem chegou ao estado crítico, tanto que no final de dezembro os secretários da Agricultura, Eduardo Salles, e do Meio Ambiente, Eugênio Spengler, reuniram-se com a comunidade do município e anunciaram a redução do fornecimento de água ao mínimo necessário à sobrevivência das plantas e manutenção dos empregos.
Desde o dia 17 foram registradas chuvas em Itaberaba, com 60 mm na bacia do rio Paraguaçu, o que reforça o abastecimento de Pedra do Cavalo; Boa Vista do Tupim, (100 mm); Ipirá (100 mm); Iaçú (60 mm); Amargosa (25 mm); Maiquinique (25 mm); Ibicuí (33 mm); Livramento de Nossa Senhora (23 mm); Ponto Novo (10,0 mm); Ibicoara (de 40 a110 mm); Mucugê (75 mm); Várzea da Roça (de 20 a 45 mm), e Mairí (60 mm). 
Drama no semiárido
De acordo com o secretário Eduardo Salles, o semiárido, que representa 65% do território baiano, está sofrendo muito com a longa estiagem e, apesar da chegada da chuva, a seca não pode ser esquecida. “A agropecuária baiana vinha crescendo significativamente graças ao trabalho de base que o governo vem fazendo no setor, mas com a estiagem muitas culturas, mesmo as mais resistentes e símbolos de convivência com o semiárido, como caju, umbu e sisal, tiveram quedas acentuadas de produção”, disse.
As safras de umbu e caju deste ano, cuja colheita vai de outubro a janeiro, perderam-se em mais de 80%. O sisal perdeu 60% em 2012 em relação a 2011, e na safra desse ano a queda pode ser de 80%, mesmo percentual que pode acontecer com o mel, superando a marca de perda de 60% registrada no ano passado.
O café, grande gerador de empregos na Chapada Diamantina e na região de Vitória da Conquista, sofreu redução dramática. Em 2011 foram colhidas 1,5 milhão de toneladas de sacas, número reduzido para 900 mil sacas em 2012. Para este ano, se não chover o suficiente, a expectativa de colheita é de 300 mil sacas.
A mandioca, cultura presente nos 417 municípios baianos e basicamente desenvolvida por agricultores familiares, também sofre muito com a seca, com reflexos na renda do produtor e nas prateleiras dos supermercados, com a elevação do preço da farinha. A safra de mandioca de 2011, da ordem de três milhões de toneladas, caiu em 2012 para 2,6 milhões, e se o quadro continuar sem alteração em 2013 a safra poderá ficar em 1,9 milhão de toneladas.
O preço das hortaliças também aumenta nas feiras e mercados, por causa da redução da produção, em função da escassez de água no Agropolo Mucugê, responsável por 95% da batata consumida no nordeste. A barragem do Apertado só está conseguindo atender a 30% das necessidades. Nos perímetros de irrigação de Livramento de Nossa Senhora, Ponto Novo eMirorós, a seca provoca a queda na produção de frutas, em especial banana, manga e maracujá.
A citricultura amarga resultados negativos. A produção que em 2011 foi de 1 milhão de toneladas, caiu em 2012 para 600 mil toneladas (-40%), pode despencar este ano para apenas 200 mil toneladas, queda de 80% em relação a 2011.
A produção de grãos também foi afetada. Em crescimento desde 2009, quando saltou de 6,08 milhões de toneladas para 7,66 milhões em 2011, a produção desse setor caiu no ano passado para 6,76 milhões, projetando-se para este ano 5,97 milhões de toneladas.
Na pecuária, mais de 300 mil bovinos já morreram, de morte morrida, ou seja, morreram de sede e de  fome e, houve aumento de 15% no número de fêmeas abatidas. A perda do rebanho bovino chega a quase 30% em alguns municípios na Chapada Diamantina. O abate de ovinos e caprinos cresceu 70%. “Sem dúvida, será necessária mais de uma década para recuperarmos os rebanhos”, Alerta o secretário Eduardo Salles.
Quando se trata da pecuária de leite, as perdas são significativas. No semiárido a queda de produção é de 70%, e em alguns lugares chega a 100%, mas a média geral é de 40%, o que representa 500 milhões de litros de leite. A situação não é mais drástica porque os rebanhos bovinos de corte e de leite estão concentrados no Extremo Sul e no Oeste do Estado, regiões menos afetadas pela seca.
Na aqüicultura e pesca, os efeitos da seca foram graves também. As estações de produção de alevinos da Bahia Pesca aumentaram a capacidade de produção de 15 milhões para 65 milhões de alevinos, mas em 2012 só foram produzidos e distribuídos 18 milhões. Nos projetos de piscicultura em tanques-rede, a expectativa de pesca era da ordem de 640 toneladas, mas pescou-se apenas 180 toneladas. 
Governo busca soluções
Para evitar o agravamento da situação e estruturar o seminário para a convivência com a seca, o secretário Eduardo Salles, também presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Agricultura (Conseagri), vem reivindicando ao governo federal a Implantação do PAC Semiárido; criação urgente de um programa de doação de milho para os pequenos ovinocaprinocultores do Nordeste brasileiro; utilização do sistema de cabotagem, via Porto de Paranaguá, para facilitar o transporte de grandes quantidades de milho para as capitais do nordeste; prorrogação para até 31 de dezembro de 2013 das vigências das linhas especiais de crédito instituídas para produtores rurais afetados pela seca na área de abrangência da Sudene e pelas enchentes na região Norte; acréscimo de R$ 1 bilhão aos recursos disponibilizados, e prorrogação das dívidas de custeio e investimentos a vencer em 2013 para 2014.
Vários ofícios foram encaminhados à presidente Dilma Rousseff; aos ministros Fernando Bezerra, da Integração Nacional; Pepe Vargas, do Desenvolvimento Agrário; Mendes Ribeiro, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; ao presidente do Senado Federal e ao presidente da Câmara dos Deputados.
Barragens subterrâneas
Visando estruturar o semiárido para a convivência com a seca, o governo da Bahia, através da Seagri, vai construir 1.400 barragens subterrâneas em mais de 50 municípios, em cinco territórios de identidade, selecionados por critérios técnicos. Os recursos foram obtidos pelo Conselho Nacional de Secretários de Agricultura (Conseagri), presidido pelo secretário da Bahia, junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) e Ministério da Integração, que liberaram R$ 100 milhões para os estados do nordeste e Minas Gerais, cabendo desse valor 22,1 milhões para a Bahia.
Além disso, gestões do Conseagri junto ao governo federal resultaram na criação do Crédito Emergencial, com três anos de carência e dez para pagar; prorrogação das dívidas que venceriam em 2012 e pede agora a prorrogação dos débitos a vencer este ano.
Em permanente sintonia com a superintendência da Conab na Bahia, comandada por Rose Pondé, que tem feito todo esforço para atender as necessidades do Estado, a Seagri e o Conseagri destacam que um dos grandes desafios é fazer com que o milho chegue aos pequenos produtores para garantir a alimentação animal. “O governo do Estado, através da Seagri/Suaf e Sedir/Car, tem pago o frete do milho desde o centro-oeste, mas precisamos de mais velocidade”, diz Eduardo Salles, afirmando que a alternativa mais eficiente é o transporte do milho via cabotagem, a partir do Porto de Paranaguá, para os portos dos estados nordestinos. Esta alternativa tem sido solicitada reiterada vezes ao governo federal.
Para viabilizar a chegada do milho aos criadores, a Seagri conseguiu instalar provisoriamente cinco armazéns em regiões estratégicas, mas para estruturar o Estado o secretário defende a construção de armazéns da Conab nas regiões produtoras de milho, a exemplo do oeste da Bahia.
“Tudo que se faça é muito pouco em função da dimensão desse fenômeno que é a seca”, diz o secretário, relatando ainda que, entre as ações desenvolvidas para amenizar os prejuízos dos criadores, estão a inclusão dos médios produtores no programa de venda balcão da Conab, inicialmente apenas para os pequenos criadores, e a compra de caprinos e ovinos, também pela Conab, no programa de compra com doação simultânea.
O Programa Garantia Safra, do governo federal, executado na Bahia pela Seagri através da Superintendência de Agricultura Familiar e pela Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA) tem sido importante instrumento e registrou na safra 2011/2012 números significativos. De acordo com os dados apresentados pelo superintendente Wilson Dias, 209 municípios e 149.698 famílias de agricultores aderiram ao programa, das quais 149.124 receberam indenizações no valor total de R$ 143,2 milhões. Para 2013, a meta é alcançar 250 mil cotas do Garantia Safra, e 300 mil em 2014. (Jornal Grande Bahia)

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